Luís Gomes é natural de Pedro II e mora em Matias Olímpio há pouco mais de seis anos.
Por Política Dinâmica
O padre Luís Gomes de Oliveira está na disputa pela prefeitura do município de Matias Olímpio, a 237 km de Teresina, no Norte do Piauí. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), o sacerdote católico decidiu ingressar na política e quer ser o próximo prefeito da cidade.
Luís Gomes é natural de Pedro II e mora em Matias Olímpio há pouco mais de seis anos. Ele anunciou a pré-candidatura no começo do ano e após isso a Diocese de Parnaíba chegou a anunciar a transferência dele da Paróquia de Matias Olímpio para o município de Ilha Grande.
No entanto, o religioso decidiu não sair e ficou para entrar na disputa eleitoral. Ele se afastou da igreja em virtude da eleição, costurou alianças e lançou a candidatura. “Essa situação com a Diocese está bem resolvida. Resolvemos em harmonia”, disse o padre ao Política Dinâmica.
O sacerdote contou ainda porque decidiu entrar na política e fez críticas ao modelo de gestão praticado no município. “Me tornei candidato por uma necessidade local. Uma política atrasada e ultrapassada para os nossos tempos. Desejo fazer um trabalho diferente aqui caso a população queira”, justifica o religioso.
Luís Gomes tem 38 anos e concorre com outros quatro candidatos a prefeito. Ele é da oposição ao grupo político do atual prefeito. Na declaração de bens à Justiça Eleitoral, o padre declarou ter como patrimônio apenas uma moto Honda Bros 160, ano 2018, no valor de R$ 10 mil.
BISPO CRITICA DECISÃO DO PADRE
Apesar de Luís Gomes afirmar que tudo foi resolvido em harmonia com a Diocese de Parnaíba, não é o que deixa transparecer o bispo Dom Juarez Sousa da Silva.
Em entrevista ao Política Dinâmica, o bispo lembrou que padres são proibidos de se candidatarem e afirmou que a Igreja forma e ordena padres para serem pastores e não prefeitos. Dom Juarez se refere ao padre Luís Gomes como “ex-vigário”.
“Os padres são proibidos de se candidatarem a cargos políticos e de participarem da política partidária. Se por decisão própria se candidatam, são afastados do exercício do ministério sacerdotal. Foi o que aconteceu com o ex-vigário de Matias Olímpio. A Igreja forma e ordena padres para serem pastores, não para serem prefeitos. O povo de Deus quer e precisa de padres missionários e profetas a serviço da Salvação, da vida em plenitude com todos. O padre sempre fará muito melhor para o povo a ele confiado do que como político. Esse ofício é próprio dos leigos e leigas, não de padres”, falou.
O bispo ainda criticou o abuso do poder religioso e uso de bom nome de padre e de pastor na obtenção de votos. Ele lembrou que a maioria das experiências de padres prefeitos não foi exitosa e disse que a Justiça Eleitoral deve ficar de olho nesse tipo de situação.
“O abuso do poder religioso na obtenção de votos, do uso do bom nome de padre e de pastor não só não é critério de bons gestores, como a maioria das experiências tem mostrado, como é inconveniente. A Justiça Eleitoral tem critérios claros e deveria estar de olho”, alertou.
Questionado se o afastamento do padre Luís Gomes é apenas temporário apenas por conta do período eleitoral, o bispo não deu garantias de que ele ainda volte a usar a batina. “Quanto ao afastamento, depende da situação em que ocorreu a candidatura e, se possível, de discernimentos futuros”, informou Dom Juarez.
IGREJA CATÓLICA PROÍBE
A Igreja Católica tem se posicionado de forma contrária ao envolvimento de padres em atividades políticas e partidárias, conforme a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de acordo com decretos de várias dioceses espalhadas pelo país. Apesar disso, alguns padres entram em disputas eleitorais.
No Piauí, vários padres foram prefeitos ao longo das últimas décadas. Um dos mais destacados foi o Padre Lira (1919-2015), que foi prefeito das cidades de São Raimundo Nonato (um mandato) e Dom Inocêncio (três mandatos). Em sua última eleição em 2004, Lira, então filiado ao PFL, foi eleito prefeito de Dom Inocêncio aos 85 anos de idade.
Além de Lira, outros padres entraram na política no Piauí. Em Picos, o Padre Walmir Lima (PT) está concluindo o segundo mandato de prefeito com um alto índice de rejeição. Walmir chegou a ter o mandato cassado em primeira instância acusado de abuso do poder político e econômico na reeleição em 2016. Ele recorreu e se livrou da cassação na 2ª instância. Walmir também é réu em processo de improbidade administrativa na Justiça Federal depois de ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Em São Raimundo Nonato, o padre José Herculano Negreiros foi prefeito por duas vezes, de 1997 a 2000 e de 2009 a 2012. Herculano já teve condenações por improbidade administrativa em 1ª instância e também é réu em processos na Justiça Federal. De temperamento forte, o padre costuma trocar farpas públicas com adversários políticos.
Em Domingos Mourão, o padre Domingos Cavaleiro foi prefeito e chegou a ser preso em 2010, no exercício do mandato, acusado de pedofilia pela Procuradoria de Justiça do Piauí. Cavaleiro também foi denunciado à Justiça Federal por não prestar conta de recursos públicos no tempo certo e carrega processos da época em que governou o município.
Sacerdote bastante conhecido na região de Esperantina, o Padre Ladislau da Silva disputou duas eleições de deputado estadual no Piauí pelo PT. Teve uma boa votação na primeira campanha, sobretudo na região de Esperantina, mas não se elegeu. Ele ainda foi superintendente do Incra no Piauí nos governos de Lula (PT) e chegou a ser condenado em 1ª instância pela Justiça Federal por liberar verba pública federal sem observância de normais legais.
Outro que experimentou a carreira política foi o padre Solon Correia de Aragão (1921-2000). Influente na região de São João do Piauí e São Raimundo Nonato, ele foi eleito deputado estadual em 1962 e exerceu mandato na Assembleia Legislativa do Piauí. Em 1966, foi candidato a senador pelo MDB, mas perdeu a eleição para Petrônio Portella.