Mensagens de inclusão e diversidade marcam cerimônia inaugural dos Jogos na capital japonesa
Por Folhapress
SÃO PAULO
Primeira cidade a sediar as Paraolimpíadas pela segunda vez, Tóquio abriu a edição de 2020 dos Jogos, com um ano de atraso provocado pela pandemia da Covid-19, nesta terça-feira (24).
Após receber a edição de 1964 (a segunda da história dos Jogos Paraolímpicos), a capital japonesa recepciona agora um evento muito maior (4.403 atletas em 22 esportes) e consolidado, que aproveita sua visibilidade global para passar mensagens sobre inclusão e diversidade por meio do esporte de alto rendimento.
O mote da cerimônia, “nós temos asas”, foi materializado em diversos momentos dela, com alusões ao vento, voos, aeroporto e aeronaves. O clima festivo no estádio lembrou o do encerramento das Olimpíadas, que teve uma abertura mais solene, marcada por referências à pandemia.
A pira paraolímpica foi acesa simultaneamente por três atletas: Yui Kamiji (tênis), Shunsuke Uchida (bocha) e Karin Morisaki (halterofilismo). Eles subiram a rampa que levava ao grande símbolo dos Jogos em suas cadeiras de rodas.
No segmento artístico, o evento de quase três horas de duração contou a história de um avião com apenas uma asa, desacreditado da sua capacidade de voar por conta disso.
Após ter contato com aeronaves variadas (interpretadas por pessoas com diferentes tipos de deficiência), cada uma com suas particularidades, e iluminado pelas luzes de um caminhão extravagante ao som de rock, o pequeno avião ganhou confiança, coragem e apoio para enfim conquistar os ares, no ápice da cerimônia.
Sim, ele também poderia voar, numa metáfora da capacidade de inspiração dos atletas paraolímpicos pelas suas performances esportivas e que reforçou os recados que os Jogos buscam passar.
A “monoasa” foi interpretada em cadeira de rodas por Yui Wago, 13, na sua primeira experiência cênica.
“A história do pequeno avião com uma só asa tinha que ser identificável para todas as pessoas, e acho que todos serão capazes de tirar algo dela, independentemente da deficiência”, disse o diretor da cerimônia, Worry Kinoshita.
“Quando a humanidade deveria estar unida em sua luta contra a Covid-19, há um desejo destrutivo de quebrar essa harmonia. Negligenciar o que nos une e focar os fatores que nos diferenciam alimenta a discriminação. Isso enfraquece o que podemos alcançar juntos como raça humana”, afirmou Andrew Parsons, brasileiro que preside o IPC (Comitê Paralímpico Internacional, na sigla em inglês).
Ele foi apresentado na cerimônia ao lado do imperador Naruhito, responsável pela declaração de abertura dos Jogos. “A diferença é uma força, não uma fraqueza. À medida que nos reconstruímos melhores, o mundo pós-pandêmico deve apresentar sociedades onde existam oportunidades para todos”, completou Parsons, que encerrou com um “muito obrigado” em inglês, japonês e português.
Houve referências à campanha global WeThe15, lançada nos últimos dias para lembrar que existem 1,2 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no planeta, o que representa cerca de 15% da população mundial. O movimento liderado pelo IPC aspira colocar as pessoas com deficiência, na condição de maior grupo marginalizado do mundo, no centro das agendas de inclusão, ao lado de etnia, gênero e orientação sexual.
O gramado da cerimônia emulou um aeroporto, com pista de decolagem, avisos no alto-falante e um saguão de embarque para a entrada dos representantes de 162 delegações.
A do Brasil foi a 119ª (pela ordem alfabética japonesa) e contou com apenas quatro membros: os porta-bandeiras medalhistas de ouro em 2016 Petrúcio Ferreira (atletismo) e Evelyn Oliveira (bocha), a técnica da bocha e estafe de Evelyn, Ana Carolina Alves, e o diretor técnico do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), Alberto Martins. O número reduzido se deu para evitar uma exposição maior ao coronavírus.
A bandeira nacional estava presa à cadeira de rodas de Evelyn, que não tem os movimentos dos membros inferiores e possui comprometimento de força nos movimentos dos membros superiores. Petrúcio, que perdeu parte do seu braço esquerdo na infância, segurou a ponta da bandeira com a mão direita. O atleta paraolímpico mais rápido do mundo também sambou.
A delegação verde-amarela, que tem 234 atletas com deficiência e 259 no total, é a quinta maior do evento, atrás de Japão, China, Comitê Paralímpico Russo e Estados Unidos.
A bandeira do Afeganistão foi a quinta a entrar, carregada por um voluntário como gesto de solidariedade, já que o país não participará dos Jogos. Inicialmente, haveria dois representantes afegãos na competição: Zakia Khudadadi (taekwondo) e Hossain Rasouli (atletismo). Com a tomada do poder pelo Talibã, os atletas não tiveram como viajar. Zakia iria se tornar a primeira mulher do Afeganistão a participar de uma edição das Paraolimpíadas. Há ainda um atleta nascido no país no time de refugiados.
A Nova Zelândia, com 29 atletas em Tóquio, decidiu não mandar representantes para a cerimônia de abertura nesta terça, sob a alegação de preocupações com a segurança sanitária.
“Estamos operando como uma bolha da Nova Zelândia. Portanto, a exposição dos membros da equipe a grandes grupos de pessoas de muitas nações não está alinhada com nossos protocolos para a Covid-19 e procedimentos que visam manter nossa equipe o mais segura possível, principalmente em vista do crescente número de casos em Tóquio”, afirmou Paula Tesoriero, chefe de missão da Nova Zelândia.
O IPC disse respeitar a decisão, mas declarou que as medidas adotadas para a cerimônia protegeriam os participantes do coronavírus. Nesta terça, foi divulgado o primeiro caso de contaminação de um atleta dentro da Vila Paraolímpica. Desde 12 de agosto foram registrados 154 casos ligados aos Jogos, incluindo sete atletas.
Nos discurso das autoridades, coube à presidente do comitê organizador de Tóquio-2020, Seiko Hashimoto, destacar que os Jogos são “generosamente hospedados pelo povo japonês” e que todas as medidas possíveis para evitar o espalhamento da Covid-19 continuam sendo tomadas.
O Japão convive com alta de casos da doença desde o fim de junho e nas últimas semanas registrou recorde de ocorrências, além de falta de leitos para tratamento de situações graves.
Os primeiros eventos esportivos das Paraolimpíadas começam às 21h (de Brasília) desta terça-feira. SporTV e TV Brasil transmitem as competições.