Líder do Centrão atende a uma pressão de Bolsonaro, que perdeu a eleição presidencial para Lula
Terra
BRASÍLIA – Em representação enviada nesta terça-feira, 22, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL lançou mão de um relatório sem nenhuma prova para afirmar que o presidente Jair Bolsonaro teve 51,05% dos votos no segundo turno das eleições e venceu a disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último dia 30. Para chegar a esse porcentual, o partido de Jair Bolsonaro pede a anulação dos votos de 279 mil urnas eletrônicas. A ofensiva do PL coincide com o discurso golpista de questionamento do sistema eleitoral.
As urnas foram validadas por auditorias das Forças Armadas e do Tribunal de Contas da União (TCU). Produzido pelo Instituto Voto Legal (IVL), o relatório do PL afirma, no entanto, afirma que os equipamentos apresentaram “desconformidades irreparáveis de mau funcionamento”. O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, deum então, 24 horas para que o PL também inclua na ação o questionamento ao resultado do primeiro turno das eleições, quando o partido obteve a maior bancada na Câmara, com 99 deputados.
Ao apresentar o resultado do relatório, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que os modelos antigos das urnas, anteriores a 2020, têm o mesmo número de patrimônio. O PL alega que isso impediria a fiscalização dos equipamentos. Essas mesmas urnas, porém, foram usadas nas eleições de 2018.
Desde o ano passado, Bolsonaro põe em dúvida o sistema eleitoral, mas nunca apresentou nem mesmo indícios do que afirma. Nos bastidores, o presidente diz ser vítima de uma “armação” da Justiça Eleitoral. Após a derrota para Lula, Bolsonaro se isolou no Palácio da Alvorada. Seus apoiadores, porém, têm bloqueado estradas e feito manifestações antidemocráticas em frente aos quartéis, com pedidos de intervenção militar.
Costa Neto declarou que os apontamentos da ação apresentada ao TSE não representam o pensamento do PL, mas elogiou o engenheiro Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal. “Esse relatório não expressa a opinião do Partido Liberal, mas é o resultado de estudos elaborados por especialistas graduados e que, no nosso entendimento, devem ser analisados pelos especialistas do TSE de forma que seja assegurada a integridade do processo eleitoral”, disse o presidente do PL.
Em vídeo que circulou nas redes sociais, no último fim de semana, Costa Neto havia afirmado que votos de cerca de 250 mil urnas estariam comprometidos. Com a ação, a legenda põe em dúvida a legitimidade de quase 60% das urnas de votação. Os próprios integrantes do PL admitem que não há comprovação de fraude, mas pedem que indícios sejam apurados. De acordo com o engenheiro Carlos Rocha, pouco menos de 193 mil urnas, o que representa 40,8% do total tinham o código de identificação “correto” e “que permite associar aquela linha de registro de atividade a urna que realizou aquela atividade”. Do outro lado, 279 mil urnas, 59,2% do total, de modelos anteriores ao de 2020, estariam com o “número inválido”, segundo Carlos Rocha.
Minutos após a ação, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes respondeu com ofício pedindo que a ação incluísse também os votos do primeiro turno, quando foram eleitos as bancadas de senadores e deputados do PL. Outros partidos políticos também reagiram, como o PSDB, que disse em nota que a iniciativa do PL é “uma insensatez” e que “o momento é de colaborar democraticamente com a transição de governo”.