A defesa do livre mercado por parte dos políticos termina no momento em que os preços atingem um valor estratosférico
Por Estadão
O inverno se aproxima no continente europeu e as luzes começam a se apagar. A crise elétrica já é uma realidade. Diversos países deram início às campanhas pedindo economia de energia por parte da sua população. Além disso, alguns países começam a intervir no mercado de energia.
A ameaça da Rússia em interromper por completo o fornecimento de gás para a Europa é a principal responsável pela crise elétrica. As temperaturas muito elevadas no verão, a seca e a possibilidade de um inverno rigoroso não têm ajudado os europeus. Os membros da União Europeia (UE) disseram que pretendem reduzir o uso de gás em 15% até o inverno, e os termostatos serão calibrados a no máximo 17 graus. O gás russo atende a cerca de 40% da demanda da UE.
O preço da eletricidade começou a atingir patamares nunca vistos na Europa. O contrato de um ano na França subiu até 25% para 1.130 euros por megawatt-hora (MWh) na European Energy Exchange AG, em 26 de agosto. O equivalente alemão também atingiu um recorde, subindo até 33%, para 995 euros por MWh, com um aumento de cerca de 70% na mesma semana. Em termos de barril de petróleo, é o equivalente a mais de US$ 1.600 o barril. Os políticos europeus já destinaram cerca de 280 bilhões de euros (US$ 281 bilhões) para aliviar a dor do aumento dos preços da energia para empresas e consumidores, mas a ajuda provavelmente deverá ser maior diante da escalada dos preços.
Os governos europeus começaram a implantar medidas como redução da iluminação externa de edifícios e monumentos públicos e privados e limite às temperaturas de aquecimento interno. Diversos países do bloco começam a sugerir soluções conjuntas.
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, sugeriu a implementação de um imposto de lucro excessivo como forma de ajudar empresas e consumidores a lidar com os choques de preços. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu uma reforma do mercado de eletricidade da UE, dizendo que almeja um mercado “protegido de elementos de especulação” e com novas fórmulas de preços. A Grécia propõe separar a eletricidade produzida a partir de fonte renovável e nuclear daquelas geradas por combustíveis fósseis ao definir os preços da energia. A Itália exige um limite no preço das importações de gás da Rússia. E a República Checa, que detém a presidência rotativa do bloco, está propondo limitar os preços do gás natural usado para geração de eletricidade.
O ponto em comum de todas as propostas é que todas têm cunho intervencionista. A defesa do livre mercado por parte dos políticos termina no momento em que os preços atingem um valor estratosférico. O problema é que práticas intervencionistas e populistas num momento de recessão econômica são um cobertor curto que vai trazer consequências nefastas no futuro europeu. A conferir.
*Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)