OUTRO LADO: Gestão Nunes afirma que reparo pedido por moradores foi feito; atendentes do 156 informaram que técnicos deixaram a área por insegurança
Folha de São Paulo
Moradores de um quarteirão da rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia, centro de São Paulo, ficaram sem iluminação pública por mais de 72 horas. O problema teve início na segunda (13) e durou ao menos até a tarde de quinta (16), conforme os relatos, no trecho entre as ruas dos Andradas e do Triunfo.
Essa parte da via é ocupada na madrugada por usuários de drogas que frequentam a cracolândia. Ao acionar o canal de atendimento da prefeitura, os moradores ouviram que técnicos estiveram no local, mas foram embora por considerarem o perímetro como área de risco.
A aglomeração de dependentes químicos vem causando transtornos a quem vive nos arredores e espantando serviços como entregas de comida e de encomendas e transporte por aplicativo e táxi. Em dezembro, nesse mesmo trecho, moradores chegaram a “sequestrar” uma equipe da concessionária Enel para ter a luz de seus imóveis reestabelecida — inconformados com a falta de luz havia 72 horas, eles impediram os técnicos deixassem a região sem fazer o conserto.
Procurada sobre o novo problema, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse na tarde de quinta que a SP Regula Iluminação Pública enviou uma equipe que constatou a falha no circuito e fez o reparo. Moradores confirmaram à reportagem o retorno da iluminação.
A reportagem teve acesso a gravações que mostram diálogos entre um morador e atendentes da central 156.
Após o autor do pedido fornecer o número do protocolo, a atendente respondeu que a solicitação foi fechada depois de uma equipe de manutenção ir ao local mencionado, às 21h41 de terça-feira (14), e entender se tratar de área de risco.
Conforme a atendente, foi deixada uma observação para que outra equipe fosse ao endereço durante o dia, o que, segundo o autor do pedido, não aconteceu.
Em uma outra gravação, um funcionário explicou que a equipe de manutenção constatou atividade ilícita de venda de droga e resolveu deixar o local sem executar o serviço.
“É péssimo, já não temos segurança. Não tem polícia na rua. As mulheres são as mais afetadas. É angustiante. Imagina passar no meio disso no escuro?”, disse o autônomo Pablo Ferreira, 34.
Um outro morador, que pediu para não ser identificado, também reclama da insegurança. De acordo com ele, nunca é possível saber o estado em que se encontram os usuários, além de se sentir preso dentro de casa.
Em nota, a prefeitura afirmou que a SP Regula providencia diariamente reparos necessários para a melhoria da iluminação pública, trocando lâmpadas com mau funcionamento e vistoriando a correspondente fiação que, em alguns casos, pode ter sido furtada ou alvo de vandalismo.
“Em situações normais, a manutenção é realizada no prazo máximo de 24 horas. No entanto, em decorrência de fatores externos como queda de árvores, furto de cabos ou fenômenos naturais, esse prazo poderá ser estendido”, acrescentou.
COMERCIANTES FECHAM AS PORTAS
A Folha mostrou nesta quinta que ao menos 23 comerciantes fecharam as portas nos últimos três meses na região da rua Santa Ifigênia e no bairro de Campos Elíseos, também no centro de São Paulo, após a chegada de usuários de drogas.
O fluxo, como é chamada a concentração da cracolândia, se espalhou pelas ruas do centro há dez meses, desde a ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, em maio do ano passado. Antes de ocupar a praça, os dependentes químicos se reuniam no entorno da estação da Luz.
A reportagem percorreu as ruas Guaianases, dos Gusmões, Conselheiro Nébias, General Osório, Vitória e Aurora na semana passada e contou o número de estabelecimentos sem funcionar com placas de “Aluga-se” ou “Vende-se”.
Na rua Guainases, entre as ruas Vitória e Aurora, há metade de um quarteirão com lojas desocupadas. Ao lado, um estacionamento também encerrou as atividades. Em determinadas horas do dia, a rua se torna intransitável devido à aglomeração de usuários de drogas.
A maior parte dos comércios fechados é de lojas de peças para motocicletas e oficinas, mas há também uma agência da Caixa Econômica transferida da rua Vitória e um restaurante italiano que funcionava desde 1971 na rua Aurora.