Relator negocia ao menos três alterações na reforma tributária para vencer resistência de governadores

Mudanças envolvem novo mecanismo para Conselho Federativo, um dos pontos mais criticados pelos estados, além de um novo calendário para unificação de ISS e ICMS

Deputado Aguinaldo Ribeiro, relator da Reforma Tributária – Cristiano Mariz/O Globo

O GLOBO

Para vencer a resistência dos governadores, o relator da Reforma Tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) está negociando ao menos três mudanças no seu parecer: mudança na gestão de recursos arrecadados pelo Conselho Federativo, alteração no calendário do IBS (imposto que reunirá ISS e ICMS) e novos critérios para rateio do dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Regional.

  • As modificações no texto da reforma vêm sendo capitaneadas pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
  • Ele desembarca em Brasília nesta terça-feira para tratar do assunto com um grupo de deputados, senadores e o relator da reforma.
  • Segundo fontes ligadas ao Comitê Nacional de Secretários de Estaduais de Fazenda (Comsefaz), além de SP, outros dez estados defendem mudanças no relatório.
  • Haverá reunião dos governadores hoje e entre Arthur Lira (PP-AL) e parlamentares para se chegar a um consenso e votar o texto ainda nesta semana no Congresso.

Uma das principais críticas dos governadores é ao Conselho Federativo, que seria responsável por centralizar a arrecadação e fazer a divisão entre os entes. Os governadores temem perda de autonomia.

Segundo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que coordenou o grupo de trabalho da reforma, uma das alterações no texto da reforma envolve justamente o funcionamento do Conselho Federativo.

A ideia é criar um mecanismo híbrido para o conselho. Por esse mecanismo, o que se arrecada com transações de compra e venda de bens e serviços feitas em um determinado estado ficaria no próprio estado.

O que for arrecadado em operações interestaduais – por exemplo, um bem vendido por uma empresa no Rio para um consumidor em São Paulo – iria para uma câmara de compensação. Essa foi a posição defendida pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A ideia da câmara de compensação, segundo Lopes, seria um forma de fazer com o que o repasse do IBS seja pleno, sem cumulatividade. Então, somente o volume a ser compensado seria centralizado nessa câmara, explicou.

Calendário do IBS

Outra modificação é criação de uma escadinha para a implementação gradual do Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), que vai unificar ICMS e ISS:

  • A ideia é começar em 2026 com 1% da arrecadação total desses dois tributos
  • A alíquota deve chegar a 30%, 40% em 2032.
  • No ano seguinte, entra em vigor o IBS cheio com uma alíquota geral, ainda a ser definida.

Os estados defendem iniciar a implementação do IBS em 2026, igual à União no caso da Contribuição Sobre Bens e Serviços, e não em 2029, conforme prevê o relatório. A ideia é evitar que a lei federal se sobreponha, evitando-se assim riscos de perda de autonomia na administração do IBS.

Pela proposta, o IBS vai substituir o ICMS e o ISS gradativamente. Em 2033, com o IBS cheio, os incentivos fiscais serão extintos até essa data e eventuais perdas serão compensadas pela União no valor total de até R$ 160 bilhões.

Reforma Tributária: infográfico com linha do tempo da transição — Foto: Arte O GLOBO

Fundo de Desenvolvimento Regional

Também está em negociação a inclusão no relatório do volume de recursos, a princípio de R$ 40 bilhões, a ser destinado pela União ao Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR).

A depender das discussões, os critérios de partilha da verba do Fundo entre os estados por regiões – Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sul e Sudeste – também podem ser incluídos no texto.

Lopes defende uma combinação de indicadores: tamanho da população, menor PIB per capita e beneficiários de programas sociais, como Bolsa Família, por exemplo.

– Ainda estamos negociando e devemos fechar esses ajustes na manhã desta terça-feira – disse Lopes ao GLOBO.

Os estados também querem elevar o volume de recursos do Fundo de Desenvolvimento Regional. O Comsefaz pediu inicialmente R$ 75 bilhões, mas o Ministério da Fazenda sinalizou com R$ 40 bilhões.

Crítica do setor de serviços

Além dos governadores, há também resistência do setor de serviços, que teme aumento de carga tributária.

A expectativa do presidente da Câmara, Arthur Lira, é votar a reforma ainda nesta semana. Mas segundo Lopes, ainda não existe definição.

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