Ao longo de seu mandato, Araújo não poupou críticas à Organização Mundial de Saúde (OMS) e atacou a representação diplomática no Brasil da China.
Por Estadão
Demitido em março deste ano após pressão do Congresso e críticas por sua atuação na pandemia do coronavírus, o ex-chanceler Ernesto Araújo será ouvido nesta terça-feira, 18, pelos senadores da CPI da Covid. Nos pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty, o ex-ministro acumulou declarações polêmicas sobre a doença, entre elas a o uso do termo “comunavírus” e da expressão “covidismo”.
Ao longo de seu mandato, Araújo não poupou críticas à Organização Mundial de Saúde (OMS) e atacou a representação diplomática no Brasil da China, o que acabou prejudicando as negociações de vacinas contra a covid-19 com o país asiático.
O depoimento do ex-ministro é tido como um dos mais importantes da CPI até aqui. Isso porque, um mês depois de deixar o Itamaraty, ele acusou o núcleo do do governo de Jair Bolsonaro de ter pedido “alma” e o “ideal” .
Em abril do ano passado, Ernesto publicou um texto em seu blog pessoal, o Metapolítica 17, afirmando que o coronavírus é, na verdade, um plano comunista. No artigo intitulado Chegou o Comunavírus, o ex-chanceler faz comentários sobre um livro de Slavoj Zizek segundo o qual a pandemia do coronavírus representa “uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade”.
A obra, de acordo com o ex-chanceler, entrega sem disfarce o “jogo comunista-globalista de apropriação da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado, escravizar o ser humano e transformá-lo em um autômato desprovido de dimensão espiritual, facilmente controlável”.
No texto, além de comparar as restrições da pandemia aos campos de concentração nazistas, o ministro reproduz trechos que criticam o regime do Partido Comunista Chinês e a OMS. No final, ele diz que é preciso lutar “contra o Coronavírus, mas também contra o Comunavírus, que tenta aproveitar a oportunidade destrutiva aberta pelo primeiro, um parasita do parasita”.
‘Covidismo’
Durante cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, em outubro de 2020, Ernesto Araújo afirmou que se a nova política externa do Brasil “faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. Na ocasião, o ex-chanceler fez críticas ao multilateralismo e ao que chamou de “covidismo”. “Tomam as instituições multilaterais que podem ser muito úteis para a coordenação entre as nações e as transformam em multilateralismo, a doutrina de que tudo tem que ser resolvido por instâncias superiores aos países. Tomam uma doença causada por um vírus, a covid, e a transformam, ou tentam transformá-la, num gigantesco aparato prescritivo destinado a reformatar e controlar todas as relações sociais e econômicas do planeta. O ‘covidismo’, chamemos assim.”
‘Controle social’
Em postagem no instagram sobre sua fala em uma sessão da ONU sobre a covid-19, Ernesto Araújo citou a teoria conspiratória denominada great reset (em português, “o grande recomeço”), segundo a qual a pandemia de covid-19 teria surgido de um complô de elites que querem impor o controle econômico e social à população. Apesar de não ter citado nominalmente a teoria na ONU, o ex-chanceler usou seu discurso para falar em “armadilha” e “controle social totalitário”.
“Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar de momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da Covid-19”, disse ele na sessão da ONU.
Discurso contra restrições
O ex-ministro contestou medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus e falou em “sacrifício da liberdade” durante fala no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ele, as liberdades fundamentais são ameaçadas por desafios crescentes, e a crise da covid-19 apenas contribuiu para exacerbar essas tendências. “Sociedades inteiras estão se habituando à ideia de que é preciso sacrificar a liberdade em nome da saúde”, afirmou Araújo na reunião virtual.
Retratação da China
Em um dos episódios de conflito com a China, o ex-chanceler saiu em defesa de Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente republicar uma mensagem no Twitter que culpava o país asiático pela pandemia. Na ocasião, o perfil oficial da embaixada chinesa protestou contra o deputado e disse que ele havia contraído “vírus mental”. O então chanceler classificou a reação da embaixada “desproporcional”, disse que feriu “a boa prática diplomática” e pediu retratação por parte do embaixador, Yang Wanming, que rejeitou a sugestão de Araújo.