Rússia bombardeia teatro de Mariupol onde havia centenas de abrigados, afirmam autoridades ucranianas

Local abrigava até 1,2 mil pessoas e número de vítimas deixadas pelo ataque é desconhecido

Imagem mostra teatro de Mariupol destruído após bombardeios na cidade nesta quarta-feira, 16. Local abrigava entre mil e 1,2 mil pessoas, dizem autoridades Foto: Donetsk Regional Civil-Military Administration/Handout via Reuters

Por Estadão

Um bombardeio russo destruiu nesta quarta-feira, 16, um teatro que abrigava centenas de moradores de Mariupol, causando um número ainda desconhecido de vítimas, informam autoridades ucranianas. Segundo o Parlamento da Ucrânia, o teatro foi totalmente destruído e virou escombros.

O vice-prefeito de Mariupol, Serhi Orlov, afirmou que havia entre mil e 1,2 mil pessoas escondidas no teatro. Petro Andruishchenko, assessor do prefeito, afirmou que o teatro era o maior abrigo “em número e tamanho” no centro da cidade. Não se sabe se há sobreviventes. “A probabilidade de chegar lá para retirar os escombros é baixa devido aos constantes bombardeios da cidade”, escreveu no Telegram.

O ministério russo da Defesa negou ter bombardeado o teatro e atribuiu a explosão a um batalhão nacionalista ucraniano, denominado Azov. Moscou já tinha responsabilizado esta unidade militar pelo bombardeio, na semana passada, de um hospital pediátrico e maternidade em Mariupol, que provocou indignação internacional.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse que o caso é “mais um crime de guerra horrível” cometido pela Rússia em Mariupol e que o edifício está completamente destruído. “Houve um ataque maciço da Rússia ao Teatro Drama, onde centenas de civis inocentes estavam escondidos”, escreveu Kuleba no Twitter. Kuleba ironizou e disse que “os russos não poderiam saber que era um abrigo civil”.

Desde que a invasão russa na Ucrânia teve início, no dia 24 de fevereiro, Mariupol é uma das cidades mais castigadas pela guerra. A cidade portuária do sul da Ucrânia tornou-se sinônimo do horror da invasão russa. É um lugar de necrotérios com alta rotatividade, valas comuns recém-cavadas, cadáveres em alguns casos enterrados sob escombros e corpos deixados nas ruas, onde as pessoas morreram.

À medida que as condições em Mariupol se deterioram e o número de mortos aumenta, relatos de uma catástrofe humanitária transbordam por meio de telefonemas intermitentes, vídeos com imagens tremidas e testemunhos dos poucos grupos de ajuda ainda em atividade na cidade.

A cidade está há dias sem abastecimento de água, energia, saneamento básico e sinal de internet. As estimativas oficiais dizem que pelo menos 2,5 mil civis já morreram em consequência do conflito.

Somente nesta semana, depois de tentativas fracassadas, civis conseguiram sair da cidade. Até terça-feira, 15, cerca de 2 mil veículos deixaram o local de 400 mil habitantes. A retirada dos civis foi feita por corredores humanitários. Nas tentativas anteriores, as tropas russas e ucranianas continuarem em conflito ao redor dos corredores, o que impediu a saída dos civis. Ambos os países se acusaram.

Mariupol é uma cidade portuária estratégia da Ucrânia, situada às margens do Mar de Azov e entre a Península da Crimeia e a região separatista de Donbass. A sua captura é considerada prioritária para a Rússia.

Uma grande preocupação entre analistas militares é que a situação em Mariupol possa ser um vislumbre do que está por vir em outras cidades ucranianas, como Kiev, à medida que a guerra se arrasta. “Estamos tentando entender o porquê da destruição, mas é assim que os russos combatem”, afirmou Rita Konaev, especialistas em guerra urbana e diretora associada de análise do Centro para Segurança e Novas Tecnologias da Universidade Georgetown. “Continuamos ouvindo que a Ucrânia não é como a Síria ou a Chechênia. Mas em Mariupol estamos vendo que isso não é verdade.”

Mesmo sob a melhor das circunstâncias, a guerra urbana é sangrenta e surte seu dano mais pesado sobre os civis pegos no fogo cruzado. A versão russa de guerra urbana provou-se especialmente cruel nas décadas recentes, afirmou Konaev. Por causa de seus enormes problemas de logística e aparente baixa moral, as forças russas têm tido dificuldade para tomar grandes cidades na Ucrânia. As forças russas, contudo, ainda possuem poder aéreo e canhões de artilharia capazes de esmagá-las. Cada vez mais, os russos parecem estar usando sua imensa vantagem em poder de fogo — especialmente em Mariupol — para despovoar os centros urbanos ucranianos e então tomar o controle.

Em Mariupol, onde as forças russas bombardearam uma maternidade na semana passada, as consequências dessa prática se revelaram especialmente devastadoras, ocasionando algumas das imagens mais dolorosas da guerra. Entre elas, a cena de socorristas e voluntários carregando uma mulher gravemente ferida sobre uma maca, afastando-a do hospital sob ataque. “Matem-me agora!”, berrou a mulher, segundo testemunhas, quando soube que estava perdendo o bebê. Dias depois, o médico que havia lutado para salvá-la contou, de Mariupol, a uma TV ucraniana, que mãe e filho tinham morrido após tentativas desesperadas de ressuscitá-los.

Mortos na fila do pão

Na cidade de Chernihiv, ao menos dez pessoas morreram em um ataque da Rússia. Segundo a Embaixada dos Estados Unidos em Kiev, as vítimas esperavam na fila para comprar pão quando foram atingidas. A informação também foi divulgada pela Procuradoria ucraniana.

“Soldados russos atiraram contra pessoas que faziam fila para comprar pão perto de uma mercearia em uma área residencial de Chernihiv. De acordo com um balanço inicial, 10 civis foram mortos”, anunciou a procuradora em comunicado.

“Hoje, as forças russas atiraram e mataram 10 pessoas na fila por pão em Chernihiv. Tais ataques horríveis devem parar. Estamos considerando todas as opções disponíveis para garantir a responsabilização por quaisquer crimes de atrocidade na Ucrânia”, escreveu a embaixada no Twitter.

Biden envia ajuda e diz que Putin é criminoso de guerra

Depois de anunciar o envio de mais US$ 800 milhões em armas anti-áreas, antiblindagem e drones para a Ucrânia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quarta-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, é “um criminoso de guerra” por conduzir a invasão do país pela Rússia.

Presidente Joe Biden assina ordem executiva para assistência americana à Ucrânia  Foto: Shawn Thew/EFE

Trata-se da condenação mais dura até agora das ações de Putin e da Rússia por uma autoridade dos EUA desde a invasão da Ucrânia. Enquanto outros líderes mundiais usaram essas palavras, a Casa Branca hesitou em declarar as ações de Putin como crimes de guerra, dizendo que este era um termo legal que exigia pesquisa. Mas em um discurso na quarta-feira, Biden disse que tropas russas bombardearam hospitais e mantiveram médicos como reféns.

Ao todo, o presidente americano enviou US$ 2 bilhões em auxílio de segurança a Kiev desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro do ano passado. Cerca de US$ 1 bilhão foi enviado somente na última semana. “Vamos dar à Ucrânia as armas para lutar e se defender em todos os dias difíceis que virão pela frente”, disse.

Ele anunciou o envio de cem drones americanos à Ucrânia e garantiu que ajudará o país europeu a adquirir sistemas antiaéreos “de maior alcance” para se defender dos bombardeios russos. /AFP, NYT, W.POSTP e EFE

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