Moscou afirma ter controle quase total sobre província de Donbas, enquanto autoridades ucranianas pedem que soldados mantenha suas posições
Por Estadão
Tropas ucranianas continuam a defender a dizimada cidade de Severodonetsk, parte do último bolsão de resistência na província de Luhansk, enquanto forças russas e separatistas continuam bombardeios e ataques incessantes no leste do país. Autoridades de Kiev pediram que seus soldados ignorem as notícias sobre os avanços russos e mantenham a resistência, enquanto Moscou afirma ter tomado 97% do território da província.
O cálculo de 97% do território de Luhansk sob domínio russo foi anunciado pelo ministro da Defesa Serguei Shoigu. O general também afirmou nesta terça-feira, 7, que as forças russas tomaram bairros residenciais de Severodonetsk e estão lutando para assumir o controle de uma zona industrial nos arredores e em cidades vizinhas.
Centro administrativo da região de Luhansk, a cidade se tornou recentemente o foco da ofensiva russa. Severodonetsk e a vizinha Lisichansk são as duas únicas cidades de Donbas que resistem à invasão russa, de acordo com agências internacionais.
De acordo com o prefeito de Severodonetsk, Oleksandr Striuk, a situação permanece “estável”, mas “difícil” sob o implacável bombardeio russo. As forças ucranianas “estão mantendo a cidade”, disse o prefeito em uma declaração à televisão, “mas a luta não está desaparecendo”.
Ele acrescentou: “Nossas forças armadas estão fazendo o máximo para defender a cidade”.
A estimativa ucraniana é que entre 10.000 e 11.000 pessoas permanecem em Severodonetsk.
Cidades que ainda resistiam nos arredores caíram em mãos russas, segundo Shoigu. Tropas russas aumentaram a ofensiva em direção a Popasna e assumiram o controle de Liman, Sviatohirsk e 15 outras cidades da região. Um levantamento russo aponta que 6.489 soldados ucranianos foram feitos prisioneiros desde o início da ação militar na Ucrânia, incluindo 126 nos últimos cinco dias.
O governador de Luhansk, Serhi Haidai, admitiu que as forças russas controlam os arredores industriais de Severodonetsk. “As batalhas de rua mais duras continuam, com graus variados de sucesso”, disse Haidai à Associated Press. “A situação muda constantemente, mas os ucranianos estão repelindo os ataques.”
Haidai também confirmou ataques a alvos civis de Lisichansk, incluindo um mercado, uma escola e um prédio universitário, destruindo o último. Três feridos foram enviados para hospitais em outras partes da Ucrânia, disse ele.
“Uma destruição total da cidade está em andamento, os bombardeios russos se intensificaram significativamente nas últimas 24 horas. Os russos estão usando táticas de terra arrasada”, disse o governador acrescentando que as forças ucranianas teriam repelido 10 ataques russos em 24 horas.
Apesar dos esforços de Moscou para ampliar a pressão no leste ucraniano, o conselheiro da presidência da Ucrânia, Mikhailo Podoliak, exortou seu povo a não ficar desanimado com eventuais retrocessos no campo de batalha.
“Não deixem que a notícia de que cedemos algo te assuste”, disse ele em um discurso em vídeo. “Está claro que manobras táticas estão em andamento. Nós cedemos algo, pegamos algo de volta.”
A região de Donbas, que inclui as províncias de Donetsk e Luhansk, é onde separatistas apoiados pela Rússia lutam contra o governo ucraniano desde 2014. Quando Moscou autorizou a invasão do país vizinho, em 24 de fevereiro, a conquista da área estava entre os principais objetivos, com Vladimir Putin reconhecendo a independência das repúblicas populares de Donetsk (RPD) e de Luhansk (RPL).
Não está claro se a Rússia tentaria expandir a ofensiva em outros lugares da Ucrânia se tomar completamente Donbas, mas o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, alertou que, se o Ocidente fornecer à Ucrânia foguetes de longo alcance capazes de atingir o território russo, Moscou responderá pressionando sua ofensiva mais profundamente na Ucrânia
Kremlin diz para Ucrânia retirar minas de portos para escoar grãos
Em meio a temores nos mercados internacionais de uma crise alimentar global devido à guerra, o Kremlin voltou a afirmar que a Ucrânia precisa remover minas marítimas perto do porto de Odesa, no Mar Negro, para permitir que as exportações de grãos essenciais sejam retomadas a partir de lá.
Questionado sobre um possível acordo para permitir embarques de grãos de Odesa, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse a repórteres na terça-feira, 7, que a remoção das minas pela Ucrânia permitiria que navios comerciais atracassem em Odesa, observando que militares russos precisariam verificar esses navios para garantir que não carregassem armas.
Peskov acrescentou que, depois de carregados com grãos, a Rússia ajudará a escoltar os navios para águas internacionais./ AP e WPOST