Secretaria que reduziu poder do GSI e militares na segurança de Lula deve se tornar permanente

Estrutura criada em janeiro para atuar na segurança pessoal do petista e de Alckmin seria extinta em 30 de junho, mas intenção do governo é manter função sob o comando de policiais federais e longe da influência de militares

Cautela. Lula durante a campanha eleitoral: presidente mudou modelo de segurança pessoal e criou estrutura que reduz participação de militares no setor Marcos Serra Lima/g1

O GLOBO

O Palácio do Planalto pretende tornar permanente a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República, responsável pela proteção do chefe do Executivo. Criada em janeiro para atuar até 30 de junho, enquanto o governo trabalha na “desbolsonarização” do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a nova estrutura, formada predominantemente por policiais federais, agradou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Um indício de que a secretaria veio para ficar é que novas turmas de policiais com treinamento específico para atuar na segurança presidencial estão sendo formadas. Atualmente, são 110 agentes destacados para atuar no setor, que deverá ter até 300 nos próximos meses.

O avanço da estruturação da secretaria revela não só um ganho da Polícia Federal na queda de braço com os militares como um enfraquecimento cada vez maior do GSI, comandando pelo general Edson Gonçalves Dias. Apesar de próximo a Lula, GDias, como é conhecido, ainda não se livrou das críticas pela atuação da segurança do Palácio do Planalto durante atos terroristas de 8 de janeiro.

Além de ficar sem controle da segurança presidencial, o GSI também perdeu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), transferida para a Casa Civil, sob o comando do ministro Rui Costa.

A disputa entre Polícia Federal e o GSI, contudo, se iniciou ainda na transição, quando a secretaria extraordinária foi desenhada pela equipe liderada pelo delegado Andrei Rodrigues, atual diretor-geral da PF.

A secretaria extraordinária é chefiada pelo delegado federal Alexsander Castro de Oliveira, um dos coordenadores da equipe de segurança durante a campanha. Oliveira tem gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, mas passa o dia em uma sala anexa ao gabinete presidencial, no terceiro andar, de onde acompanha todas as agendas do presidente.

Cabe à secretaria planejar, coordenar e executar a segurança de Lula, de Alckmin, e familiares dos dois. Durante o governo de Jair Bolsonaro, a segurança presidencial ficava a cargo de militares do GSI, sob o comando do general Augusto Heleno. A desconfiança de Lula com militares, reforçada pelos ataques golpistas de 8 de janeiro, respaldaram a existência da secretaria no novo governo. A estrutura se reporta diretamente ao Gabinete da Presidência da República, chefiado por Marco Aurélio Santana Ribeiro.

No fim de abril, ocorrerá um seminário liderado pela secretaria para debater formas de segurança presidencial com representantes de países como Portugal, Argentina e Alemanha, que também possuem civis no comando da proteção de autoridades. No encontro, representantes do governo Lula pretendem reforçar a ideia que não só o Brasil, mas outros países de tradição democrática possuem civis à frente desse trabalho.

Atualmente, 110 policiais integram o time, dos quais 33% são mulheres. O grupo é formado predominantemente por policiais federais. Há, no entanto, um número menor de militares das forças armadas, agentes da Abin e policiais de outras forças. O GLOBO apurou que, apesar de a secretaria extraordinária cuidar da segurança presidencial, o GSI segue enviando militares para fazer a segurança em eventos de Lula em Brasília e em viagens. A primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, por sua vez, prefere não ter militares na equipe que faz sua escolta.

Ao perder as atribuições da segurança presidencial, o GSI ficou responsável apenas pela guarda do Palácio do Planalto. Em eventos com a participação do presidente, por exemplo, homens do GSI fazem a segurança até o entorno do elevador do andar onde ocorre a agenda. Todo perímetro aproximado de Lula fica a cargo da secretaria extraordinária.

Objetivo de ampliação

Nos próximos meses, a meta é ampliar o contingente da equipe de segurança presidencial. Parte do grupo ficará baseado em São Paulo, em apoio a segurança dos filhos do presidente e do vice e para atuar durante visitas dos dois ao estado. O time também atua em viagens presidenciais. Na semana de 20 a 24 de março, quando o presidente passou por Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, três equipes diferentes foram enviadas a cada um dos destinos para executar procedimentos de segurança antes da chegada de Lula. Equipes também foram enviadas com antecedência a Xangai e a Pequim, na China, onde Lula terá compromissos na próxima semana.

Em 30 de março, uma equipe acompanhou Lu Alckmin, mulher do vice, em todo percurso de 28 quilômetros entre Pindamonhangaba (SP) até Aparecida (SP), quando participou de uma romaria.

Hoje, será formada a primeira turma após duas semanas de treinamento na Academia Nacional de Polícia (ANP), em Brasília. Dos quase 100 alunos, há quatro militares da Polícia Militar do Piauí, que integram a Força Nacional.

A secretaria trabalha para gradativamente incluir militares na equipe. No dia 24 de março, três oficiais da PM de São Paulo foram transferidos para Brasília. Além disso, as próximas turmas que serão treinadas terão integrantes das PMs da Bahia e Maranhão e da Polícia Penal do Rio Grande do Sul. Os profissionais se oferecem voluntariamente ao trabalho e passam por um filtro de inteligência da secretaria e uma prova até chegarem ao curso prático.

Capítulos de uma relação turbulenta

“Portas abertas”

Logo após os atos golpistas em Brasília, Lula demonstrou desconfiança e afirmou que as portas do Planalto haviam sido “abertas”. O presidente também reclamou de falhas no setor de inteligência, o que inclui o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por um militar.

Abin na Casa Civil

Em outro sinal de desprestígio do GSI, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que era parte da estrutura do órgão, foi incorporada pela Casa Civil, comandada por Rui Costa. O objetivo de “desmilitarizar” a agência vinha sendo debatido desde a transição e ganhou fôlego após os ataques.

Mudança consolidada

Agora, o governo pretende tornar permanente a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata, responsável pela proteção do presidente. A nova estrutura é formada majoritariamente por policiais federais e vai ganhar reforço com a formação de novos agentes.

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