A fala de Martine ocorre três dias depois de ela ter sido transferida de avião a um hospital em Miami
Por Folhapress
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Martine Moïse, viúva do presidente do Haiti assassinado na quarta-feira (9), Jovenel Moïse, fez neste sábado (10) suas primeiras declarações públicas desde o ataque e pediu que o seu país não “perca o rumo”.
A fala de Martine ocorre três dias depois de ela ter sido transferida de avião a um hospital em Miami para se recuperar dos ferimentos graves sofridos durante o ataque na madrugada de quarta, quando atiradores invadiram a residência particular da família em Porto Príncipe.
“Estou viva, graças a Deus”, afirmou Martine em uma mensagem de áudio em creole publicada em rede social. O ministro da Cultura e das Comunicações do Haiti, Pradel Henriquez, confirmou à agência de notícias AFP que se trata de uma gravação autêntica.
Até o momento, não está claro o motivo do ataque, e as autoridades buscam desvendar quem foi o mandante do magnicídio.
Martine apontou vários possíveis motivos: disse que os assassinos foram enviados por pessoas que estavam contrariadas com os planos de marido de proporcionar “estradas, água e luz, um plebiscito [constitucional] e eleições no final do ano”.
Ela sugeriu que as pessoas por trás do assassitato talvez “não queiram ver uma transição no país”.
“Estou chorando, isso é certo, mas não podemos deixar que o país se perca”, afirmou. “Não podemos deixar que seu sangue [de Jovenel Moïse] […] tenha sido derramado em vão”.
“Em um piscar de olhos, os mercenários entraram na minha casa e metralharam o meu marido com balas […] sem nem sequer dar a ele a oportunidade de dizer uma palavra”, ela disse.
De acordo com as autoridades haitianas, um esquadrão de 28 homens (26 colombianos, muitos deles militares reformados, e dois cidadãos haitianos-americanos) invadiu a residência e abriu fogo contra o casal.
As forças de segurança prenderam 17 supeitos e mataram pelo menos outros três. Os demais suspeitos seguem foragidos, de acordo com a polícia.
A irmã de um dos suspeitos de origem colombiana morto pelas autoridades haitianas havia sido contratado como guarda-costas.
“Há alguma coisa que não bate”, disse Jenny Carolina Capador, irmã de Duberney Capador, 40, à agência de notícias Reuters.
“O que eu sei e posso assegurar para o mundo inteiro é que o meu irmão era uma pessoa correta e meu irmão não fez aquilo do que está sendo acusado.”
Ela disse que Duberney tinha treinamento em contraterrorismo e se aposentou em 2019, após 21 anos de carreira militar. Ele tinha dois filhos e criava galinhas e peixes quando um ex-colega lhe ofereceu trabalho, de acordo com a sua irmã.
“Eles lhe fizeram uma oferta para ir trabalhar no ramo de segurança, para fornecer segurança e colaborar com a proteção de pessoas importantes, e que ele seria bem remunerado”, disse Jenny.
Na sexta-feira (9), outra mulher, que disse ser a esposa de Francisco Eladio Uribe, um dos suspeitos detidos no Haiti, disse a uma rádio colombiana que seu marido havia ficado sabendo do trabalho por meio de uma pessoa a quem ela se referiu somente como “Capador”.
O assassinato do presidente agrava a crise institucional em que o Haiti está mergulhado. Moïse, que havia praticamente inabilitado o Congresso e governava o país por decreto, se mantinha no cargo apesar de opositores reivindicarem que o seu mandato deveria ter se encerrado em fevereiro passado.
Com a morte do presidente, o premiê interino Claude Joseph assumiu o comando do país e declarou estado de sítio durante duas semanas, medida que amplia os poderes do Executivo. Joseph deverá ficar encarregado de realizar as eleições parlamentares e presidenciais marcadas para setembro.
O governo haitiano pediu na sexta que os Estados Unidos e a ONU enviem tropas militares para ajudar a proteger peças-chave da infraestrutura local, como aeroporto e reservatórios de gasolina.
O governo americano não confirmou o envio das tropas, mas a Casa Branca afirmou que mandará agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna, além de vacinas contra a Covid ao único país das Américas que ainda não começou a imunizar sua população.
Já o pedido à ONU traz à memória a Minustah, missão que reuniu, entre 2004 e 2017, tropas para tentar estabilizar o Haiti. A operação teve protagonismo do Brasil, que, excetuando-se breves intervalos, comandou um contingente internacional que chegou a ter mais de 7.000 militares de 22 países.