Cerca de 500 mil pessoas seguem em isolamento residencial após novos casos da doença serem detectados na cidade
Estadão
O governo de Xangai voltou a impor confinamentos a milhares de pessoas nesta quinta-feira, 2, apenas um dia após ter anunciado uma reabertura parcial do rigoroso lockdown que parou a capital econômica da China por meses. De acordo com autoridades municipais, mais de 500 mil pessoas seguem em isolamento em áreas residenciais na cidade que registraram casos de covid-19.
A metrópole chinesa começou a retomar aspectos de “vida normal” na quarta-feira, 1°, depois que as autoridades flexibilizaram as restrições anticovid. Moradores foram autorizados a retornar aos locais de trabalho, precisando passar por controles eletrônicos para mostrar que estão saudáveis, e pessoas se reuniram em pequenos grupos em parques. Metrô e outros transportes públicos voltaram a funcionar.
Menos de 24 horas depois, a situação regrediu para alguns.
Liu, uma mulher de 29 anos do distrito de Minhang, contou à France-Presse que o conjunto habitacional onde mora foi mais uma vez posto em confinamento, após a informação de um caso suspeito de covid-19 em um dos prédios. Moradores lamentaram o confinamento “sem fim” em conversas on-line, disse ela.
No distrito central de Jing’an, as autoridades trancaram com correntes o portão de outro conjunto habitacional. Houve confronto entre agentes e moradores, de acordo com uma jornalista da France-Presse que estava no local.
As medidas do governo de Xangai revelam que a China não pretende abandonar a estratégia de “covid zero”, que vem mantendo desde o início da pandemia – e que os isolamentos serão retomados ao menor sinal de novos casos da doença.
A Comissão Nacional de Saúde da China comunicou que 37 novos casos de covid-19 foram identificados na segunda-feira, 18 deles por contágio local. Apenas cinco deles foram registrados em Xangai – o que foi suficiente para colocar em quarentena conjuntos habitacionais por inteiro.
Diante desse contexto, algumas pessoas parecem dispostas a burlar as regras. Depois de saber que um de seus funcionários era um caso suspeito, um empresário escondeu-o sob uma ponte rodoviária para não ser encontrado pelos funcionários dos serviços de saúde, relatou a polícia nesta quinta-feira.
O chefe, que acabou sendo detido, disse estar “preocupado que os negócios da empresa fossem afetados” pela ausência do funcionário, segundo o comunicado.
Todas essas situações contrastam com a cobertura da imprensa estatal, que transmite quase que apenas vídeos de festas, prédios iluminados e o retorno do trânsito no centro da cidade.
Nada poderia estar mais distante da realidade para Eva, de 26 anos, que terá de cumprir um novo confinamento de dois meses. Na quinta pela manhã, ela recebeu uma notificação oficial sobre casos suspeitos no condomínio onde mora.
“Para começar, esta abertura não me parecia real. Depois de tudo o que passamos nos últimos dois meses, tinha minhas suspeitas”, desabafou./ AFP e EFE