Com duas versões, Flamengo bate um Palmeiras de poucas soluções ofensivas

Flamengo atuou sem quatro de seus principais jogadores

Pedro comemora seu gol pelo Flamengo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Por ge

Carlos Eduardo Mansur

Jornalista. No futebol, beleza é fundamental

Dois “Flamengos” em um construíram uma vitória extremamente significativa em São Paulo, dado o peso do jogo, a relevância dos desfalques e os problemas surgidos inclusive durante a partida. Sai do clássico um Palmeiras com sérias questões a resolver, em especial quando o roteiro da partida entregou a ele a iniciativa.

Muito se tem falado sobre modificações de estilo do Flamengo sob as ordens de Renato Gaúcho. É um ponto relevante, mas antes de entrar nele, é preciso pontuar algo que acompanhará este time até o fim do Campeonato Brasileiro: nenhuma análise sobre o time rubro-negro na competição poderá ignorar o impacto das convocações de seleções.

Seja pelo primeiro terço de competição, em que o Flamengo atuou sem quatro de seus principais jogadores – período em que, diga-se, o líder Atlético-MG também sofreu com desfalques-, seja pelas consequências da mais recente Data-Fifa. Ainda que o clube tenha fabricado em casa alguns dos desfalques – casos de Diego e Filipe Luís-, enfrentou o Palmeiras sem Gabigol, que voltou ao clube e sentiu problema muscular, e perdeu Arrascaeta na metade do primeiro tempo. Ambos haviam atuado na quinta-feira por suas seleções.

Enquanto o uruguaio esteve em campo, o Flamengo fez bom primeiro tempo, numa versão parecida, ao menos no que diz respeito à proposta, com a que conquistou títulos recentes. Tentava controlar o jogo, atuar no campo adversário. E Arrascaeta dividia o comando do jogo com Éverton Ribeiro. O time sofreu o primeiro gol num lance anunciado: a reposição rápida de Weverton, assunto que merecerá algumas linhas mais adiante, aproveitando os espaços que o rubro-negro se acostumou a ceder quando perde a bola.

A saída de Arrascaeta mudou o panorama. O Flamengo perdeu articulação e repertório com a bola. Passou a se defender mais atrás e a ativar uma versão mais recente: a de um time que já não é obcecado pelo controle através da posse e que se sente confortável em estocadas. Ocorre que, embora defendesse bem um Palmeiras de pouca produção ofensiva, os contragolpes eram raros. Ao se ver pressionado, o Flamengo não concedia muitas chances, via seus zagueiros atuarem muito bem, mas incomodava pouco do outro lado do campo.

E aí surge a eficácia que este time vem tendo atuando com espaço para acelerar. Mas, a rigor, o que realmente abre o caminho da virada é a bola parada, o escanteio. Como observou recentemente o analista Téo Benjamin em sua conta no Twitter, o Flamengo de Renato tem feito da bola parada ofensiva uma arma importante. Os números atualizados com o jogo de hoje indicam 74 escanteios e sete gols, ou seja, quase 10% de aproveitamento. É um número alto. Contra o Palmeiras, Pedro foi brilhante ao aproveitar o cruzamento. O gol, aliás, surgiu num momento em que os donos da casa ameaçavam levar perigo e se instalavam no campo ofensivo.

Aberto o caminho com a bola parada, veio o contragolpe do gol de Michael e, outra vez, uma atuação que não era de gala se transformou em um placar até confortável. E o fato de não ser espetacular no Allianz Parque, ao menos desta vez, é justificável pela série de desfalques do time.

Mas há o outro lado do clássico, o lado derrotado. É importante que o Palmeiras examine por que um time capaz de ser estrategicamente eficiente em jogos grandes, de competir, de brigar por títulos, por vezes se veja em tamanha dificuldade quando o jogo exige dele o protagonismo. Estava em campo um Flamengo sem Rodrigo Caio, Filipe Luís, Diego, Bruno Henrique e Gabigol, e que aos 23 minutos perderia Arrascaeta. Naturalmente, passou a defender mais atrás e fez o Palmeiras ficar mais com a bola. No segundo tempo, por exemplo, a posse dos donos da casa chegou a 65%. Mas ao volume nunca equivaleu o número de grandes oportunidades de gol. E, conforme o tempo passava e o placar não lhe favorecia, o time passou a ceder o espaço que o Flamengo tanto quer.

Há algo de positivo a destacar do Palmeiras, apesar da derrota. Diante de um Flamengo disposto a pressionar mais no início do jogo, foi notável a exibição de Weverton. E isso não tem nada a ver com grandes defesas, mas com distribuição de jogo. Foram ao menos três passes longos com os pés, ora saltando a pressão rubro-negra para encontrar espaços entre volantes e defensores, ora buscando direto a profundidade atrás da linha defensiva do Flamengo. Sem falar na reposição rápida com a mão, na origem do lance do gol de Wesley. A atuação de Weverton é exemplo cristalino da definitiva inserção do goleiro no modelo de jogo dos times. Apesar da derrota, foi a iniciativa que mais rendeu oportunidades ao Palmeiras, gerando dúvidas na pressão rubro-negra ou aproveitando suas descoordenações.

O Flamengo sai do clássico como o time mais credenciado a perseguir o líder Atlético-MG. Ainda que a tarefa esteja longe de ser simples.

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